Gentilezas urbanas, qualidade de vida e o papel da iniciativa privada
Mecanismos para melhorar a qualidade de vida nas cidades: das grandes intervenções públicas às pequenas – e fundamentais – responsabilidades da iniciativa privada
O crescimento exponencial das cidades ao redor do mundo tem imposto novas complexidades para a promoção de qualidade de vida para seus moradores. O tema já é largamente debatido, e inúmeras soluções são propostas e aplicadas, porém o caminho ainda parece desafiador. Quando pensamos nas cidades brasileiras então, a questão se torna ainda mais preocupante.
Já é consenso que o objetivo finalístico das cidades e de seus empreendimentos deva ser a qualidade de vida das pessoas, ainda que a definição deste conceito possa ser bastante incerta e condicionada ao comportamento e cultura de cada local. A tropicalização e regionalização das medidas no âmbito urbano e imobiliário para o alcance deste objetivo são, portanto, imprescindíveis. Neste contexto, surgem pequenas intervenções e ações locais capazes de ganhos relevantes para suas populações, as chamadas ‘gentilezas urbanas’.
Imagem: Parklet no Bairro do Butantã, São Paulo – Site Prefeitura de São Paulo/Divulgação
Gentileza Urbana é uma responsabilidade compartilhada
Termo de autoria incerta, mas comumente atribuído a José Datrino (1917 – 1996), o Profeta Gentileza[i], ‘gentileza urbana’ corresponde, segundo o IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), a iniciativas que favorecem o urbanismo e o paisagismo público, implantadas por empresas e empreendedores, ou seja, pela iniciativa privada.
Imagem: Pilastra do Viaduto do Gasômetro – Prefeitura do Rio de Janeiro/Divulgação
Ainda que o papel do poder público contemple a complexa atribuição de gerir e ordenar o espaço urbano, também comporta ações e implantações de elementos que promovam maior qualidade de vida a seus cidadãos.
Este papel tem sido bastante presente em iniciativas de vanguarda no planejamento urbano ao redor do mundo, desde os espaços público projetados pelo arquiteto Jan Gehl em Copenhagen, chegando a projetos ambiciosos, como a Paris de 15 minutos e as superquadras de Barcelona. Nestes projetos ocorrem intervenções de impacto urbano, mas que também apresentam soluções singelas – e pouco custosas – que podem ser adaptadas e replicadas por empreendedores imobiliários e outros agentes da iniciativa privada.
Grandes ou pequenos detalhes importam
No Brasil, tais exemplos já podem ser vistos em alguns lugares. Projetos imobiliários de grande porte, como o desenvolvimento de bairros planejados, tem sido pensados e desenvolvidos com um olhar muito mais cuidadoso, alinhado com conceitos modernos do Novo Urbanismo.
A Cidade Pedra Branca, por exemplo, um dos precursores deste novo modelo de urbanização em solo brasileiro, oferece calçadas largas, mobiliário urbano funcional e atraente, ruas acalmadas, conexão dos espaços privados com o espaço público. Diversos outros projetos de destaque também disponibilizam soluções nesta linha.
Imagem: Cidade Pedra Branca – Google Street View/Divulgação
No entanto, o dia a dia das pessoas também pode ser impactado por pequenos detalhes, pequenas intervenções como já visto anteriormente. O zoom local passa a ter uma representatividade similar na promoção da qualidade de vida, e é aqui que os empreendimentos imobiliários aparecem, independentemente de seu porte.
Até mesmo na rua da minha casa pode-se notar um pequeno cuidado que os empreendimentos podem ter no desenvolvimento de seus projetos. As duas imagens abaixo ilustram as calçadas dos dois lados da rua: de um lado, uma calçada estreita que obriga o pedestre a competir pelo espaço com postes e lixeiras; do outro, ainda que a calçada em si possua largura similar, o jardim oferecido pelo condomínio residencial (construído em 1978!) permite melhor distribuição do espaço, promovendo uma percepção de amplitude e proximidade com o verde.
Imagens: (1) Rua com calçadas antagônicas; (2) Compartilhamento de livros; Integração de espaços privados com espaços públicos: (3) parklet – Leandro Begara/Divulgação
Empreendedor, é hora de agir
Fica muito claro que a responsabilidade de promover uma cidade mais humana, mais agradável e gentil deve ser atribuída a todos os entes públicos e privados. Os empreendedores imobiliários, como agentes fundamentais na construção das cidades, devem assumir sua parcela e pensar seus projetos também como um legado, com grande apelo mercadológico e chamariz comercial.
Para tanto, conte com a Urban Systems para avaliar os desejos do público local e oferecer pequenas gentilezas urbanas que agregarão enorme valor a seus projetos.
[i] O ‘Profeta Gentileza’ recebeu esta alcunha por suas iniciativas de espalhar intervenções, mensagens positivas e críticas sociais nas pilastras do Viaduto do Gasômetro, no Rio de Janeiro.
Conteúdo elaborado por Leandro Begara, Diretor de Inteligência de Mercado da Urban Systems