Patrimônio imobiliário em tempos de coronavírus

A crise sem precedentes vivenciada durante a pandemia irá mudar radicalmente os hábitos das pessoas e a maneira como se relacionam e investem no patrimônio.

O mundo todo vive uma crise sem precedentes na história recente com a pandemia do novo coronavírus (COVID-19). O fato de estarmos todos lidando com o problema ao mesmo tempo dificulta a tomada de decisões e aumenta as incertezas dos investidores e proprietários de patrimônio imobiliário em diversos modelos de negócio. Apesar de todas as dúvidas e preocupações, existe uma unanimidade entre especialistas de mercado: nada será como antes.

Além dos efeitos da crise, a mudança radical na rotina das pessoas, hábitos de consumo e na sociedade como um todo trará reação direta nos investimentos e na relação com os ativos imobiliários. Dados da Bolsa, divulgados no final do mês de março mostram que o Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX)*, que acompanha o desempenho das cotas de mais de cem fundos negociados no mercado, já acumula perdas de 32,2%. Somente no mês de março de 2020, a desvalorização do indicador chega a 28,1%, sendo que, em 2019, o mesmo índice já acumulava ganho de 35,98%.

Tanto aqueles que investem em imóveis diretamente – que compram percentuais ou totalidade de empreendimentos, como shopping centers, lajes comerciais, condomínios residenciais ou galpões – quanto aqueles que investem em títulos, terão perdas nesse período.

De acordo com João Bosco Silveira, Diretor de Patrimônio da Urban Systems, o momento é de adaptação e de espera. “A seleção dos ativos a investir e a desenvolver deverá passar por uma releitura e adaptação. Alguns setores irão sofrer mais que os outros nesse momento, porém é importante entender o que está mudando, como adaptar o seu negócio e se planejar para a retomada quando a crise estiver controlada, daqui há alguns meses”, comenta.

Entre os ativos imobiliários mais afetados pela pandemia e crise econômica atual estão os shopping centers e os hotéis, além, é claro, dos investidores que têm o aluguel como renda.

 Shoppings Centers

Considerando a recente decisão do Governo do Estado de São Paulo de orientar o fechamento de todos os shopping centers da Grande São Paulo desde o dia 23 de março até o dia 30 de abril, a queda no movimento causará diminuição nas receitas tanto dos lojistas quanto das administradoras de shopping centers.

Silveira argumenta que “Além da necessidade de um plano emergencial para lidar com todas as consequências, os lojistas e administradores deverão considerar que o shopping de amanhã não será o mesmo de antes. O perfil do consumidor irá mudar, a maneira de comprar também e isso exigirá mudanças dramáticas pós crise”.

A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce)* está trabalhando atualmente em fornecer informações sobre o atual cenário para os seus associados, fortalecer os atendimentos online e delivery, além de solicitar aos governos Federal e Estaduais, auxílio emergencial para esse momento.

Hotéis

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH)* como a maioria absoluta dos eventos e viagens foram cancelados, a previsão é de que a taxa de ocupação caia de 90% a 100% até o final de abril. A Associação destaca a necessidade de apoio efetivo das autoridades a nível federal, estadual e municipal para ultrapassar esse momento único e difícil. Além disso, existe o movimento para que os eventos e hospedagens não sejam cancelados e sim remarcados.

Ainda segundo a ABIH, a falta de hóspedes trará consequências graves para economia do País, considerando que há cerca de 32 mil meios de hospedagem formais que geram, anualmente, cerca R$ 31,8 bilhões para economia nacional, sendo responsáveis por 380 mil empregos diretos.

O especialista em patrimônio da Urban Systems destaca que, nesse momento de hotéis fechados, o setor tem repensado os usos dos seus espaços comuns. “Tenho participado de diversos seminários do setor hoteleiro que está repensando os usos de seus espaços, a estrutura sanitária e estudando maneiras de depender menos de serviços exteriores, ou seja, trabalhando para serem cada vez mais auto sustentáveis”, completa.

Renda de aluguel

O momento é bastante delicado para os proprietários de imóveis alugados e para os inquilinos. Alguns inquilinos já solicitam flexibilidade no pagamento para os proprietários que, por sua vez, dependem dessa renda. “A chave é a negociação, não existe outra solução atualmente. Sempre orientamos nossos clientes a terem um portfólio variado de imóveis para aluguel, que contemple mais de um modelo de negócio. Dessa forma é mais fácil diminuir os prejuízos em momentos de crise”, comenta Silveira.

Para Adriano Sartori, vice-presidente de Gestão Imobiliária e Locação do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), o impacto da COVID-19 no mercado de locação de imóveis será grande e traz bastante preocupação. A orientação é a mesma: negociação. “O momento exige cautela e seriedade na tomada de decisões, cujos impactos são previsíveis, porém não aparentes, em toda a cadeia econômica do setor imobiliário e financeiro que tem como lastro os recebíveis das locações imobiliárias. Acreditamos que a livre negociação entre as partes é o melhor caminho para que a transposição desse terrível momento ocorra da maneira mais equilibrada possível no mercado de locação”.

Vale ressaltar que, neste momento de incertezas, é importante manter cautela e continuar o planejamento e estudos de seus ativos, dessa forma, no momento da retomada (pois ela virá) você estará pronto. É fato que sairão na frente aqueles que não tiverem abandonado seus planos e estratégias, mas sim estiverem atentos às mudanças e se preparando para o cenário futuro.

Conteúdo elaborado pela Redação Urban Systems.

*Fontes:

Bolsa – Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários

Associação Brasileira dos Shoppings Centers

Associação Brasileira da Indústria de Hotéis

Sindicato da Habitação – Secovi-SP

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3 Comments

  • Valdir Ventura
    14/04/2020

    sumário triste ,mas real.

  • Claudio Borges
    14/04/2020

    Sabemos que esta crise é 98% política, e querem afetar economia para atingir um dos pilares de qualquer governo, e aí vai junto desemprego, e calamidade generalizada sem solução pois quase tudo se resolve com dinheiro.
    Então se o lado destruidor vencer esta batalha iremos para um buraco negro economico nunca antes nem imaginado, e nem sabemos para quem será bom, mas os destruidores não querem saber, querem é destruir.
    Se o lado do progresso ganhar dependendo de quanto tempo ficar parado é que vamos analisar os estragos e partir para um plano de recuperação, e depois um plano de prevenção de crises e punir os responsáveis por criar pânico e se aproveitar para fraudar os cofres publicos.

  • Roberto T. Helou
    14/04/2020

    Prezados me parece que até aqui, sou um dos que discordam dessa visão a respeito do mercado imobiliário. A história mostrou como se deu a recuperação dos países que viveram 2 guerras mundiais, e como se recuperam no Oriente Médio os que viveram situações de guerra. São exemplos muito mais difíceis para a sociedade do que vivemos hoje. Com a tecnologia e a difusão do acesso as pessoas estão mais confiantes em fazer negócios pela internet. Quanto ao mais, o ser humano continua o mesmo. Terminando a pandemia, as pessoas querem sair, ir aos shopping, viajar de avião, hospedar em Hoteis, etc. Portanto os ajustes que o momento exige tem um prazo de validade. Ainda não sabemos quando mas eu acredito que no próximo ano neste mês de abril estaremos falando sobre crescimento, investimentos, novos negócios de expansão, etc. Nos meus 67 anos, no mercado imobiliário desde os meus 15 anos, participei de muitas crises, e continuamos aqui, nos desenvolvendo e nos relacionando. Ab a todos.

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