Retomada do setor de turismo deverá acontecer com cautela

Um dos setores mais afetados pela pandemia da COVID-19 prevê retomada aos níveis pré-pandemia para 2022, no entanto, especialistas pedem cautela

Em meio ao otimismo em função do avanço da vacinação, em janeiro de 2022, o Brasil registrava, segundo dados atualizados, no último dia 10 de janeiro, do portal Our World In Data*, 336 milhões de doses aplicadas, 144 milhões de pessoas totalmente vacinadas, o que corresponde a 67,9% da população. Mesmo assim, a indústria do turismo começou o ano de 2022 com alguns revezes causados pelo aumento de casos de COVID-19, além de outras gripes. Os festejos de Carnaval foram cancelados em cidades turísticas e companhias de navios de cruzeiro decidiram suspender novas viagens durante o mês de janeiro. Portanto, o clima ainda é de incerteza e cautela, porém com expectativa de retomada para o turismo brasileiro.

No dia 13 de dezembro de 2021, representantes de empresas aéreas, hotéis e agências de viagens, se reuniram para um debate na Comissão de Desenvolvimento Regional (CDR) do Senado Federal* e apresentaram uma perspectiva positiva para o setor em 2022, principalmente devido ao avanço da vacinação e ao controle da pandemia de COVID-19.

Durante o debate, especialistas citaram os dois anos da crise da COVID-19 como os mais desafiadores para a história do turismo, quando o produto interno bruto (PIB) global do setor caiu pela metade e foram fechados 65 milhões de postos de trabalho ligados à atividade turística em todo o mundo.

O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, acredita que, em até 100 dias a malha viária no Brasil seja restaurada a 100% do nível pré-covid: entretanto, a restauração dos voos internacionais será mais lenta enquanto persistirem as restrições sanitárias impostas por outros países. Para a recuperação do movimento turístico, ele considera fundamental investir na singularidade e na diversidade da produção cultural do País, ou seja, com foco no turismo doméstico.

Manoel Linhares, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), disse que 80% das vagas de hospedagem ficaram fechadas durante o auge da pandemia, mas agora o setor “volta a respirar”. Já o Vice-presidente financeiro da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Edmilson Romão, completou dizendo que acredita que o ano de 2022 será marcado pela volta à confiança em viajar.

Cruzeiros e Aéreos

As companhias de navios de cruzeiro decidiram suspender novas viagens no Brasil até o final do mês de janeiro, de forma voluntária, “por incertezas na interpretação e aplicação dos protocolos operacionais previamente aprovados”, segundo a CLIA Brasil (Associação Brasileira de Navios de Cruzeiros)*. A suspensão tem efeito imediato para novas partidas e nenhum turista será embarcado até 21 de janeiro. No entanto, segundo a associação, os cruzeiros atualmente em navegação devem finalizar os roteiros conforme previsto.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) identificou um “aumento vertiginoso” dos casos de covid-19 a bordo de cruzeiros no mês de janeiro. Em nove dias foram registrados 798 casos, uma média de quase 89 pessoas positivadas por dia, entre 26 de dezembro e 3 de janeiro. Os números, segundo a agência, reforçam a necessidade de suspensão da temporada de viagens de navio no Brasil. As cinco embarcações que operam na costa brasileira registraram casos.

De acordo com a Anvisa, desde o início da temporada, em 1º de novembro, foram confirmados 829 positivos entre tripulantes e passageiros. Antes do Natal, em 55 dias de circulação haviam sido confirmados apenas 31 casos, mas as notificações tiveram uma explosão após o dia 26 de dezembro.

Problema semelhante tem acontecido com as viagens aéreas. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac)* informou ao Ministério da Saúde, no dia 04 de janeiro, houve cancelamento de voos no País devido ao diagnóstico de Covid-19 ou gripe em tripulantes. “Com o objetivo de antecipar possíveis impactos na aviação e auxiliar no plano de ação das empresas aéreas, a Agência já havia entrado em contato com representantes das companhias aéreas, aeroportos, concessionárias, Empresas de Serviços Auxiliares de Transporte Aéreo e órgãos de controle sanitário e de saúde. A Agência tem atuado na preservação da saúde dos profissionais e dos passageiros que trabalham e utilizam o transporte aéreo”, informou a Anac, por meio de nota.

Dólar em alta

O setor do turismo é diretamente influenciado pela alta das moedas estrangeiras como euro e dólar, assim como praticamente todos os serviços e bens consumidos no País. As férias ficam mais caras, a começar pelos preços das passagens aéreas. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) de setembro, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)* no final de 2021, apontou que passagem aérea foi o terceiro item que mais pressionou a variação total do indicador (de 1,14%) no mês, com impacto de 0,11 ponto percentual ficando atrás apenas da energia elétrica (0,17%) e da gasolina (0,17).

Em novembro, o Ministério do Turismo lançou o Guia para a Retomada Econômica do Turismo, um documento resultado de um estudo sobre os desafios e ações para que os agentes do setor consigam recuperar as atividades econômicas após os impactos da pandemia de COVID-19. De acordo com o estudo, a cada ano, o Brasil recebe 6,6 milhões de turistas. Com a pandemia, os gastos de turistas de fora do País caíram de US$ 5,99 bilhões para US$ 3,04 bilhões entre 2019 e 2020, uma queda correspondente a 49,2%. No total, as perdas do setor somaram entre março de 2020 e janeiro de 2021 um total de US$ 243 bilhões. A ocupação dos hotéis também refletiu os impactos da pandemia, caindo 37,5% entre 2019 e 2020.

Turismo doméstico é aposta

De acordo com a avaliação feita pelo estudo, o Brasil não faz parte das rotas do turismo global. Uma das mudanças observadas é um turista mais cuidadoso e seletivo, mais exigente com cuidados de saúde e higiene, com os protocolos de saúde uma vez que ainda estamos em pandemia. Outra característica importante dessa retomada é a valorização do turismo doméstico.

O estudo defende o turismo doméstico e de curta duração, para lugares próximos aos grandes centros urbanos. Uma forma de promover destinos é a ampliação do uso de calendários de eventos relacionados ao entretenimento ou gastronomia em um determinado local. O documento sugere investir no ecoturismo como modalidade que ganhou força a partir da pandemia.

Para ampliar a segurança dos turistas, o guia recomenda a adoção de selos e certificados, a serem aplicados em estabelecimentos como hotéis, pousadas, restaurantes e atrações turísticas. O texto sugere ampliar a duração das medidas governamentais adotadas para apoiar o setor durante a pandemia.

Seguindo nessa linha, outro levantamento solicitado pela LCA, a pedido da Buser, plataforma digital de viagens rodoviárias*, divulgado em dezembro, cita que o turismo rodoviário pode adicionar até R$ 4,6 bi no PIB brasileiro em 2025. O levantamento mostra que a demanda de ônibus tem potencial de crescimento de 14,5% até 2025 — um incremento de 7,5 milhões de pessoas —, levando-se em consideração que uma alta de 1% na renda per capita pode representar um aumento de 2,3% no interesse dos viajantes. Os destinos mais procurados estão na região Sudeste.

De acordo com sondagem feita pela ABAV – Associação Brasileira de Agências de Viagens*, divulgada em dezembro de 2021, o turismo doméstico lidera na procura e já está próximo dos níveis pré-pandemia. No doméstico, a demanda por saídas é liderada por estados do Nordeste: Bahia, Alagoas e Pernambuco; enquanto no internacional o Caribe desponta com Cancun e Punta Cana, seguido por Dubai, Maldivas, Portugal, Espanha e os Estados Unidos, recém reabertos.

Conteúdo elaborado pela redação Urban Systems.

Fontes:

Agência Senado

Agência Brasil

Our World in Data

CLIA Brasil (Associação Brasileira de Navios de Cruzeiros)

Agência Brasil

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