Avanço da telemedicina e novas oportunidades no mercado

Os atendimentos médicos remotos, adotados emergencialmente durante a pandemia, devem continuar, ampliar o acesso à saúde e gerar novas oportunidades de negócio

Em março de 2020, início da pandemia da COVID-19 no Brasil, o Ministério da Saúde publicou a portaria nº467, que regulamentou a telemedicina, como medida emergencial em função da necessidade de isolamento social e contenção da transmissão do vírus. De acordo com a portaria, as ações de Telemedicina de interação à distância poderiam contemplar o atendimento pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, monitoramento e diagnóstico, por meio de tecnologia da informação e comunicação, no âmbito do SUS, bem como na saúde suplementar e privada. No mês de abril do mesmo ano, o Governo Federal sancionou a lei nº 13.989*, que também dispõe sobre a utilização da telemedicina durante a crise sanitária causada pela pandemia.

Naquele momento, em que essa ferramenta que acabou sendo imposta pela pandemia, trouxe certa resistência e divergências entre a classe médica, no entanto, dois anos depois, com a aceleração tecnológica o teleatendimento passou a ser considerado bastante eficiente, para diversas especialidades médicas.

No dia 18 de abril, a Associação Médica Brasileira (AMB)* endossou a decisão do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de reeditar a portaria que permitiu a realização de consultas e diagnósticos a distância no Brasil depois da pandemia. A associação ressalta defender o direito irrestrito de acessibilidade do paciente à telemedicina. “A instituição tem posição bem definida a favor da prática, sendo que posicionamentos de gestões anteriores, contrários à atividade, já foram totalmente superados”, diz, em nota. O presidente da AMB, César Eduardo Fernandes, afirma que os princípios que regem a medicina são os mesmos nos atendimentos online e presencial.

A evolução do atendimento médico online se torna muito importante no Brasil, um país de grandes dimensões, desigualdades e cenários muito diferentes (pessoas vivendo em situações sociais, geográficas e econômicas distintas) onde toda a população depende do mesmo sistema de saúde e das mesmas regulamentações. Por isso, ao falar de acesso à saúde, a telemedicina aparece em um lugar de grande destaque por ser uma modalidade com maior capacidade de garantir certa igualdade no acesso à saúde em todo território nacional.

Oportunidades

Além da facilidade no acesso à saúde, a evolução da telemedicina tem trazido novas oportunidades de negócio, tanto na área de tecnologia quanto imobiliária. A Urban Systems tem feito estudos qualitativos com médicos principalmente nos estados de São Paulo e Goiânia e, por meio desses estudos tem sido possível entender a percepção atual desses profissionais, que demonstra uma maior aceitação em relação a essa modalidade de atendimento e a intenção de prosseguir com a sua prática com parte dos seus pacientes.

É claro que o atendimento online não é possível para todas as especialidades médicas, mas para grande parte delas se mostrou eficiente. Também foi possível observar que a tecnologia tem permitido que os médicos trabalhem com mais liberdade, podendo atender em casa, escritórios específicos, reduzindo custos de consultórios, tanto para planos de saúde, quanto particulares.

Coworking na medicina

Uma das oportunidades de mercado trazidas pela telemedicina são os escritórios compartilhados, os coworkings, para médicos. A Livance Consultórios*, empresa que surgiu em 2017 com o objetivo de oferecer consultórios próprios com custos flexíveis para médicos, tem ampliado sua gama de ofertas e atualmente é a maior empresa que oferece infraestrutura como serviço para profissionais de saúde no país.

Em fevereiro de 2022, a empresa inaugurou a sua 11ª unidade na cidade de São Paulo, na Avenida Paulista. Essa é a terceira unidade de cooworking médico da empresa na região. O novo espaço conta com 23 consultórios, destes, cinco são para psicólogos, dois para teleconsultas e quatro para ginecologistas. São salas disponíveis no formato Pay-Per-Use, com a comodidade do pagamento por tempo de uso.

A partir da tecnologia desenvolvida, a empresa reduz significantemente o custo fixo do espaço e oferece infraestrutura para os pacientes e para os profissionais. O negócio já recebeu R$50 milhões em aportes e continua atraindo novos investidores para outras rodadas, que poderão acontecer em breve.

Outro exemplo bem-sucedido na área é a empresa OPT.DOC*, que, em janeiro desse ano, anunciou que planeja investir R$ 20 milhões na construção de consultórios compartilhados. A startup já oferece 20 consultórios desde julho de 2020, onde o profissional de saúde paga pelo tempo de uso do espaço. Depois de dobrar o número de clientes e ocupação das salas em 2021, a empresa pretende abrir duas novas unidades ainda no primeiro semestre deste ano.

Inovação

Sendo a medicina uma área em constante transformação e bastante marcada pela inovação, com o teleatendimento surgem também muitas oportunidades na área de tecnologia como criação de plataformas, aplicativos, unificação de registros médicos entre outros.

Segundo estudo da International Data Corporation (IDC) publicado no final de 2020, mostrou que o investimento em tecnologias na área da saúde na América Latina deve atingir US$1.931 milhões até 2022.

Está previsto o desenvolvimento de soluções que envolvem inteligência artificial, internet das coisas, machine learning, entre outras inovações, permitindo um atendimento ao paciente mais ágil, mais eficiente e, principalmente, mais satisfatório.

O e-book “Tendências em saúde: soluções que estão transformando o setor” produzido pela empresa Pixeon em parceria com a startup Distrito, destaca a inovação na medicina e o surgimento do conceito de hospital 4.0, totalmente atrelado à inovação e aos benefícios proporcionados a todos os envolvidos nesse processo – desde os pacientes até os gestores hospitalares.

O Hospital 4.0 é um conceito que envolve a integração dos serviços hospitalares e soluções inovadoras como Inteligência Artificial, Big Data, cirurgia robótica, sistemas de apoio à decisão médica, Internet das Coisas, etc. O uso desses recursos é adotado com o objetivo de tornar o ambiente hospitalar mais ágil, seguro e eficiente, além de proporcionar melhorias de qualidade ao atendimento do paciente.

Ainda de acordo com o e-book, outras tecnologias e sistemas avançados permitem otimizar inúmeros processos e aperfeiçoar o atendimento, desde a recepção até a realização de uma consulta médica. Hoje, os hospitais já podem utilizar ferramentas e aplicativos de pré-atendimento para agendar exames e consultas, evitando que o paciente vá ao hospital de forma desnecessária. Da mesma forma, também é possível falar com os pacientes à distância e, fazer uma pré-avaliação automática com o apoio de sistemas inteligentes que possuem uma base de dados sobre sintomas, protocolos e atendimento médico.

Com o uso de ferramentas de inteligência artificial é possível monitorar, pacientes em casa em tempo real, enquanto um leito do hospital se mantém disponível para receber pacientes em situações mais urgentes. Esse tipo de solução também permite ao médico chegar a regiões mais remotas ou de difícil acesso.

É importante acompanhar as tendências na área de saúde e entender as oportunidades que surgem com essas mudanças, sempre com o objetivo de atender melhor às necessidades dos profissionais e dos pacientes.

Conteúdo elaborado por Marianne Alves, Coordenadora de pesquisas da Urban Systems.

*Fontes:

Governo Federal

Governo Federal – Planalto 

Associação Médica Brasileira

Livance

Saúde Business

Pixeon

 

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