Novos produtos imobiliários para um novo consumidor

A mudança comportamental provocada pela pandemia impactou diretamente a demanda por imóveis adequados às novas necessidades, e a primeira moradia passa a ser ‘moradia um e meio’

Em um mercado já naturalmente competitivo como o imobiliário, inovação é fundamental. No entanto, embora o setor tenha se mostrado resiliente diante da pandemia da COVID-19, é preciso estar ciente de que inovar não basta. Temos um novo consumidor, com novos hábitos, novas necessidades e, muito mais consciente do que quer, principalmente em relação à compra de imóveis.

Fica claro que a resiliência do setor está diretamente ligada à capacidade dos investidores em se adaptarem às mudanças comportamentais do consumidor, portanto, principalmente a partir de agora, os novos lançamentos precisam ser pensados, desde a sua concepção e planejamento, considerando essa nova realidade. Considerando que o desenvolvimento imobiliário envolve projetos de longo prazo, entendemos que a maioria dos produtos que estão sendo lançados agora foram desenhados, projetados e aprovados antes da pandemia e não contemplam esse novo morar, viver e trabalhar.

Um dos grandes responsáveis por isso é o trabalho remoto ou híbrido, que já não é mais tendência. Em março de 2022, a Microsoft* divulgou um estudo sobre as tendências no trabalho pós pandemia apontando que 58% dos brasileiros preferem mudar para o trabalho híbrido ou totalmente remoto em 2022. Com participação de 31 mil pessoas em 31 países diferentes, a pesquisa revelou que a visão dos profissionais sobre os moldes de trabalho tradicionais mudou completamente durante a pandemia da Covid-19.

Do total de pessoas ao redor de todo o mundo, 57% dos colaboradores que atuam em diversas indústrias possuem a intenção de mudar para o trabalho híbrido, enquanto 51% dos que já atuam de forma híbrida possuem o desejo de mudar para o home office. Além disso, para 53% dos profissionais, o bem-estar e a saúde se tornaram fatores mais importantes do que o trabalho. Tanto que no Brasil, a priorização destes dois fatores foi uma das maiores, representando 71% dos participantes da pesquisa como a maior preocupação.

Obviamente, esses dados nos mostram que as pessoas definitivamente não são mais as mesmas, assim como a definição do trabalho em suas vidas e a necessidade de se equilibrar tudo isso à uma vida melhor e mais saudável, sob diversos pontos de vista. Essa mudança comportamental deixou clara a importância de uma moradia que atenda à essas necessidades de forma precisa, e é a partir desse ponto que propomos um novo conceito: a ‘moradia um e meio’.

‘Moradia um e meio’

Conforme já abordamos aqui no blog, antes da pandemia, a segunda residência era uma grande tendência de investimento no Brasil, em um momento que já trazia mudanças no setor do turismo, por exemplo.  No entanto, dois anos de pandemia foram suficientes para mudar completamente os hábitos do consumidor, exigindo uma resposta rápida do mercado.

Pensando nessas novas necessidades, a proposta de uma residência ‘um e meio’ parece a mais adequada. Esse modelo seria diferente da primeira residência – normalmente mais ligada ao cotidiano e aos dias mais corridos, onde poucas pessoas permaneciam em casa nos dias úteis –, mas também não seria a segunda moradia, que é marcada pela busca da tranquilidade, conforto e qualidade de vida. O ‘um e meio’ define um meio termo entre essas duas realidades.

Essa é a oportunidade para os investidores pensarem nesse novo modelo que traga, ao mesmo tempo um ambiente destinado ao trabalho, com outros ambientes de convivência que permitam uma maior permanência na residência com qualidade de vida, além, é claro de avaliar todas as especificidades da região em que o produto está inserido, o que inclui a proximidade de serviços importantes.

Inteligência de mercado

A ‘moradia um e meio’ deve ser desenhada pensando nessas novas premissas do novo consumidor desde a sua concepção. É claro que os projetos já existentes ou aprovados antes da pandemia também podem e devem ser adaptados, no entanto, adaptações nem sempre dão certo, uma vez que podem diferir muito do projeto original.

Por isso, para o lançamento de um novo produto é necessário que as empresas façam estudos mais aprofundados sobre o comportamento do consumidor uma vez que eles têm necessidades e desejos completamente diferentes das anteriores. O foco atual é na qualidade de vida, o valor agregado -mais do que o preço em si – e no que essa residência irá contribuir para a melhoria da qualidade de vida.

Os estudos comportamentais que antecedem o desenvolvimento de um produto imobiliário devem considerar todas essas novas demandas e variáveis, deixando de lado o comportamento de manada, tão comum no mercado imobiliário, uma vez que, mesmo que um produto seja sucesso de vendas, não significa que, se copiado, trará o mesmo resultado ao investidor. Além da questão comportamental, como sempre reiteramos aqui no blog, cada região tem a sua particularidade, cada público tem as suas necessidades e desejos específicos. O mercado se tornou ainda mais voltado ao nicho, trazendo uma variedade grande de novos produtos.

Importante lembrar também que a grande quantidade de informações e tendências podem gerar uma superoferta de produtos imobiliários que, muitas vezes, acabam não atendendo à real demanda, ou não consideram as mudanças comportamentais e particularidades de cada produto, trazendo grandes riscos aos investidores. Portanto, para que essas especificidades sejam atendidas adequadamente, o planejamento é essencial, mapeando qualitativamente os compradores e incorporando as demandas no projeto arquitetônico inicial.

Conteúdo elaborado por Thomaz Assumpção, CEO da Urban Systems

*Fontes:

Microsoft

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