CSC DX 2020: impacto da COVID-19 no planejamento urbano

Finalizando o primeiro dia dos painéis da agenda estratégica da Urban Systems, especialistas debatem sobre como a pandemia causada pelo novo Coronavírus irá transformar o planejamento das cidades e os usos dos espaços

Abordamos no texto anterior (acesse aqui) o terceiro painel realizado pela Urban Systems, em que especialistas debateram o mercado imobiliário no atual cenário. Agora falaremos sobre o quarto e último painel dessa agenda estratégica: Impacto da Pandemia da COVID-19 (coronavírus) no planejamento das cidades e os seus usos. Todos os painéis aconteceram durante o evento Connected Smart Cities e Mobility (CSCM) DX (Digital Xperience) realizado pela Necta e Urban Systems nos dias 08, 09 e 10 de setembro.

O painel aconteceu ao vivo e contou com apresentações e debates entre os participantes, clique aqui para acessar o painel.

Este painel que finaliza o primeiro dia de discussão sobre urbanismo e cidades inteligentes, teve a moderação de André Cruz, Sócio e diretor de Planejamento Urbano da Urban Systems que falou com urbanistas e empresários para discutir e dialogar sobre o impacto da pandemia da COVID-19 (coronavírus) no planejamento das cidades e os seus usos. Participaram do bate-papo Marcelo Willer, sócio da ARK Desenho Urbano, Thiago Amin, Arquiteto e Urbanista – Alameda Urbanismo e Arquitetura e Philip Yang, CEO do Urbem – Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole.

A discussão proposta ficou em torno, principalmente da manutenção do home office e a necessidade de pensar novos usos para os espaços corporativos, além de debate a respeito do consumo local x regional e o papel das novas centralidades na vida das pessoas.

Legados da pandemia

Marcelo Willer, sócio da ARK Desenho Urbano, iniciou o painel falando sobre algumas das lições que a COVID-19 nos deu até o momento. A pandemia evidenciou e intensificou problemas já existentes na vida da população como a desigualdade social, a injustiça e o aquecimento global. “Ainda é cedo para sabermos todos os legados da pandemia, mas já conseguimos tirar algumas conclusões como, por exemplo, uma das maiores ameaças para o planeta é o aquecimento global, algo que precisa ser levado mais a sério pelos gestores públicos.

Outra característica bem clara dessa pandemia é que qualquer problema de saúde pública escancara a desigualdade social, agravada pela injustiça muito grande e a desconsideração com as particularidades das pessoas como etnias, orientação sexual, culturas, o que impede que a sociedade consiga construir soluções para os problemas coletivos”, comentou.

Segundo Willer, a discussão sobre a migração das pessoas para cidades menores em função da pandemia tem acontecido, mas não na escala esperada. Para ele, a era das grandes cidades está longe de acabar. O que deverá ser tratado agora é um planejamento melhor para a vida nas grandes metrópoles, tanto em relação aos usos quanto o trabalho, considerando que algumas profissões não podem ser realizadas de maneira remota. “A ‘bolha’ do home office não atinge a maioria da população, uma vez que a maior parte da população precisa sair de casa para trabalhar. Talvez seja mais adequado dizer que as pessoas irão procurar trabalhos mais próximos de casa”.

Outra observação feita por Willer se refere a interação entre as pessoas nas cidades e a possibilidade de um isolamento maior. “A cidade é o lugar da inovação e da oportunidade. Acredito que em vez de desistir de uma cidade densa, criativa, transporte coletivo e convivência, deveremos apostar cada vez mais nisso de forma planejada e com pensamento mais focado na saúde das pessoas”.

Pandemias e adensamento

Philip Yang, CEO do Urbem – Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole, concordou com as colocações feitas por Willer lembrando que, na história da humanidade, as grandes pandemias não conseguiram mudar o direcionamento da vida nas cidades. “Ainda é cedo dizer para onde as cidades caminham, mas olhando para o passado, por exemplo, a peste negra que matou milhões de pessoas, as cidades continuaram a crescer em população e aglomeração. Num passado mais recente, temos a gripe espanhola, quando as cidades acabaram por iniciar um processo de verticalização que segue até hoje”, pondera.

No entanto, Yang, completa dizendo que a grande diferença entre as pandemias ou epidemias anteriores que mantiveram seu processo de adensamento é a tecnologia. “Hoje temos diversas tecnologias que favorecem o espraiamento. Isso ainda deveremos analisar no futuro, mas acredito que, mesmo assim, os traumas são rapidamente absorvidos, como observamos no passado. Hoje estamos sob a ameaça da aglomeração, porém, no futuro, desaglomerar pode trazer outras consequências, por isso é necessário aguardar ”, comenta.

Segundo Yang, um questionamento importante é como ficarão os mercados comerciais em regiões adensadas, se teremos espaços para áreas residenciais caso exista uma diminuição na demanda por grandes escritórios. “Acredito que, caso essa demanda se consolide, o sucesso das cidades dependerá prioritariamente da resposta regulatória que as autoridades de governos municipais darão em relação ao zoneamento. Ou seja, os zoneamentos terão que ser flexíveis para rapidamente se adequarem a essa mudança de demanda”.

Urbanismo pós pandemia

Thiago Amin, Arquiteto e Urbanista – Alameda Urbanismo, também acredita que seja importante tirarmos lições do passado. Segundo ele, as questões de saúde pública sempre foram importantes para o desenho e desenvolvimento das cidades. “Embora as grandes pandemias ou epidemias não podem ser consideradas grandes agentes de mudanças históricas, podemos dizer que o urbanismo contemporâneo surgiu em função dessas questões. A partir desses problemas começaram a ser criadas formas de circulação nas cidades, habitação, saneamento, recuos para ventilação, entre outros”, disse.

Amin deu exemplos de cidades brasileiras que foram alvos de planos sanitaristas, como Santos (SP), Campinas (SP), Recife (PE), João Pessoa (PB), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). A construção de avenidas largas, limite de altura para permitir a insolação, recuos para melhorar a circulação do ar, áreas verdes, drenagem de áreas úmidas, têm relação direta com as epidemias de febre amarela.

“Agora acredito que entraremos numa fase em que o urbanismo deverá ser revalorizado. Tanto o poder público, quanto a iniciativa privada, deverão considerar mais as questões urbanísticas no desenvolvimento das cidades e dos seus projetos como parte das cidades. Para isso será preciso uma articulação multidisciplinar entre poder público e privado num planejamento de longo prazo para as cidades focando também na descentralização das cidades e mudanças na mobilidade. Precisamos ter responsabilidade com o território, avançar para um modelo mais responsável e menos imediatista”, comentou.

Transformações

O painelista e moderador André Cruz, Sócio e diretor de Planejamento Urbano da Urban Systems, destacou que existe um desejo de afirmar coisas e definir tendências sem pensar em todas as variáveis envolvidas, conceitos, estudos e artigos acadêmicos que podem trazer outros modos de pensar. “Tudo deve ser pensado para o desenvolvimento de projetos para que não se caia no lugar comum ou em apostas”, disse.

Cruz também falou sobre cidades policêntricas, algo já discutido desde 2002, que agora segue como uma forte tendência em momentos nesse momento de pandemia. “A gente precisa entender que os clusters produtivos, arranjos produtivos, nos coloca uma diversidade coerente, onde uma relação econômica seja de transporte, seja ela informacional, passam por características muito específicas de cada território e isso deve ser muito bem pensado para se entender o que são as centralidades”.

Além disso, Cruz lembrou que a pandemia pode se tornar uma oportunidade para o DOT (Desenvolvimento Orientado pelo Transporte) (leia mais sobre DOT e LVC) ser implementado no País, respeitando as características específicas de cada região. Outro destaque, foram as mudanças de comportamento, principalmente relacionadas ao consumo que poderão ser importantes na transformação das cidades a longo prazo.

Confira AQUI a apresentação completa do sócio e diretor de Planejamento Urbano da Urban Systems.

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Conteúdo elaborado pela, Redação Urban Systems.

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