A regeneração urbana é vetor para o desenvolvimento das cidades

O conceito de regeneração urbana vem para tentar delimitar melhor outros termos que são utilizados em situações que, aparentemente, são iguais. Já ouvimos falar de revitalização, de requalificação e de reconversão. E agora surge o termo regeneração, que não é tão novo, mas que tem sido utilizado com mais frequência. Antes de entrar no tema, é importante falar sobre a diferença entre regeneração e revitalização. Quando se usa a palavra revitalização, parece que é preciso “trazer a vida”, o que dá a entender que aquele local morreu. E, consequentemente, quem ainda mora na região é excluído dessa visão. Mas existem populações que resistem ao longo dos anos, pessoas que foram morar em imóveis ociosos, além da permanência do comércio antigo.

Regeneração significa olhar para a situação de determinado local, geralmente nos centros urbanos, que já teve uma importância social, econômica e populacional muito grande no passado, considerando o acúmulo de histórias. É onde a cidade foi fundada e onde estão os prédios mais antigos, que são protegidos pelos órgãos de patrimônio. Especialmente no período pós-pandemia, pressupõe uma mudança de propósito das regiões centrais sob uma ótica contemporânea.

Revitalização não cobre todas as nuances do termo regeneração. É a oportunidade de abordar um território para dar a ele novas condições de prosperidade a partir do que já existe, entendendo a história preexistente e dando peso para o patrimônio edificado e para a cultura. Por todos estes motivos, considero que a regeneração urbana seja um grande vetor para o desenvolvimento das cidades.

Como exemplo, destaco o Masterplan Centro do Rio, para o qual tive oportunidade de participar pela Urban Systems como coordenador e mediador de uma equipe multidisciplinar que, para mim, é a chave para a resolução de problemas urbanos. Por meio do Consórcio Conexão-Rio, contratado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), em parceria com a prefeitura da cidade para identificar vocações para 46 imóveis públicos da região, analisamos demandas de prédios e terrenos que poderão ser transformados em habitação, hotéis, escolas, comércio varejista, escritórios e até mesmo novos equipamentos públicos. Essa é mais uma nuance da regeneração: o respeito a diversas visões, que são complementares, para convergi-las em uma direção comum e sinérgica a todas.

Neste estudo, o trabalho de regeneração olhou para locais como a Gamboa, a Pequena África, a estação de trem da Leopoldina, a Rua da Carioca e a Região do Porto, dentre outros que podem ganhar interesse econômico, gerando renda e firmando a identidade da população que migra para o Centro ou que já existe ali. Esse movimento é muito bonito, pois ao regenerar, é possível dar a um território protagonismo igual ao que ele teve antes, porém como um novo significado. Vale lembrar que, no caso do Rio, a Lei de Zoneamento, de 1976, proibia o uso residencial em alguns trechos da região central e só agora, em 2024, com a revisão do Plano Diretor, é que confirmamos a mudança de significado do Centro onde poucos habitavam e muitos trabalhavam, para se transformar em uma região para morar.

O Masterplan do Centro do Rio chega, então, em momento muito especial, pois parte do princípio da regeneração com a tônica do entendimento acerca das dinâmicas que existiram para enxergar as novas demandas. É respeitar o passado, trabalhar o presente e olhar para um futuro que seja mais verde e humano para a região. E, dentro desta premissa, a formação de consórcios multidisciplinares é uma maneira viável de colocar as ideias em prática, entendendo que a interface com o poder público é fundamental. A iniciativa do BNDES, em parceria com a Prefeitura do Rio, é inédita e entra para dar voz a uma política pública de desenvolvimento urbano com apoio da iniciativa privada.

O trabalho da Urban Systems para estudar as potencialidades de mercado e as formas de viabilizar as propostas com base na regulação urbanística, se somou à contribuição de especialistas em arquitetura e urbanismo, que materializam esse código visual e as soluções técnicas mais contemporâneas sobre o que pode ser o Centro do Rio, de estudos econômicos para olhar para o potencial do imóveis que foram oferecidos, de um escritório de economia criativa para identificar como atrair empresas de software, agências de publicidade, cinema e todo o tipo de tecnologia, e, claro, a participação de um escritório de advocacia para dar a segurança jurídica de que as propostas de aproveitamento são viáveis.

Com esta metodologia, chegamos a questões como: o Centro do Rio precisa de quantas pessoas, em quantos anos poderá ser feita essa regeneração? Destaco que o Rio vive uma tendência de “crescimento decrescente”. Ou seja, a cidade está crescendo menos do que no passado e se continuar assim, daqui a 20 anos a taxa de crescimento ficará negativa. E o papel da Urban Systems no Masterplan Centro do Rio foi olhar para esse passado da população, identificar as migrações, como estão as taxas de crescimento atuais e de onde viriam as pessoas para morar e trabalhar no Centro a fim de conferir viabilidade para essa regeneração. Fizemos, portanto, todo o mapeamento das necessidades.

Para chegar a estas respostas, fomos a campo. Realizamos mais de 300 entrevistas com moradores e trabalhadores do Centro e com pessoas que não têm vínculo, mas que teriam interesse em morar ali. Constatamos que há uma grande demanda por moradia e que os empreendedores estão bem atentos a isso. Basta ver os condomínios em construção no Porto Maravilha ou os hotéis que estão sendo transformados em residenciais.

É claro que existem desafios ao iniciar um movimento de regeneração urbana, entre eles a sensação de insegurança e o abandono de praças e prédios da região. Existe um dado muito interessante que retrata esse cenário: o Centro do Rio tem 20 vagas de empregos para cada habitante, já em bairros mais equilibrados, essa proporção é de 1 emprego para cada morador. Isso mostra o desequilíbrio do local, e a proposta do Masterplané melhorar essa relação, trazendo mais pessoas para residir nos bairros da região central.

É notório que o processo já está acontecendo na cidade do Rio. A iniciativa do BNDES de acelerar a regeneração a partir dos 46 imóveis, que pertencem a 17 entes públicos, dará um movimento definitivo para eles. É olhar para o todo e não de forma individualizada. Nessa relação, tanto o poder público quanto o privado ganham. E, com isso, vai se movimentando uma energia social em favor de um futuro diferente, de um futuro que regenera o território. Essa é a visão.

Clique aqui e saiba detalhes sobre o Masterplan do Centro do Rio!

Marcelo Ignatios, arquiteto urbanista e consultor de Planejamento Urbano e Política Públicas da Urban Systems

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