Bairros planejados como instrumento de transformação das cidades

Especialistas falam sobre o tema em painel realizado na 7ª Edição do Connected Smart Cities & Mobility 2021

Os bairros planejados têm sido assunto constante no blog da Urban Systems e centralizado diversos debates entre especialistas no assunto. O que há alguns anos era considerada uma tendência no Brasil, já se transformou em realidade especialmente se considerarmos todas as mudanças comportamentais, de consumo e de necessidades decorrentes da pandemia da COVID-19. Em sua 7ª edição, o Connected Smart Cities & Mobility, realizado em formato híbrido entre os dias 01 e 03 de setembro, voltou a debater o desenvolvimento de bairros planejados e como as cidades podem ser beneficiadas com esse tipo de projeto.

Foram mais de 300 palestrantes e, aproximadamente, 600 pessoas que compareceram presencialmente nos dois primeiros dias de evento, além de 2.400 acessos na plataforma de transmissão online. No dia 02 de setembro, às 14h, aconteceu o painel “Bairros Planejados como instrumento de transformação das cidades” que contou com as participações de Mariângela Machado, Coordenadora de Associações em Loteamentos e Bairros Planejados da Secovi/SP; Felipe Cavalcante, presidente de honra da ADIT – Brasil, coordenador do Movimento Somos Cidade e diretor da Matx; Marcelo Fonseca Ignatios, arquiteto e urbanista e com a moderação de Thomaz Assumpção, CEO da Urban Systems.

O painel levantou importantes questões sobre o tema como: o que realmente é um bairro planejado; quais são as distinções entre os tipos de bairros planejados; que portes e perfis de cidades podem ser beneficiadas com esse modelo de desenvolvimento imobiliário e urbano.

Bairros planejados e o legado da pandemia

Os bairros planejados, modelo inspirado em iniciativas internacionais unindo moradia, trabalho e lazer em um só lugar, deixaram de ser tendência e têm sido bastante explorados no Brasil. Principalmente depois de mais de um ano e meio de pandemia, home office, isolamento social e mudanças profundas no comportamento e no consumo das pessoas. Thomaz Assumpção, CEO da Urban Systems começou o painel com essa reflexão e a preocupação de que o sucesso e praticidade de empreendimentos anteriores possam levar a uma banalização do conceito do que é realmente um bairro planejado.

“Esse conceito está intimamente ligado a uma movimentação da cidade, acelerada pela pandemia, que nos impôs uma reflexão muito grande sobre a nossa moradia e nosso conceito de trabalho. Os escritórios esvaziaram, as casas tiveram que se adaptar e essa remodelação nos obriga a repensar a cidade que a gente tinha. Agora buscamos qualidade de vida e abandonados as condicionantes que nos acompanharam pela vida, como passar horas no trânsito ou realizar grandes deslocamentos para atividades cotidianas. Tudo isso levou ao desenvolvimento de novos bairros planejados, uma nova cidade começa a surgir, com novas centralidades. Existe uma lógica e um balanceamento para todas essas atividades, um bairro planejado precisa ser equilibrado, estudado e ter uma configuração que efetivamente conte com todos os produtos imobiliários necessários”, comentou.

Assumpção explica que o aumento da demanda é um bom momento para diferenciar o que realmente é um bairro planejado e o que é um loteamento. Para que o bairro planejado seja uma importante intervenção urbana precisa ser planejada com inteligência e estudo de demanda que permita oferecer ao mercado multiprodutos que vão ao encontro das necessidades das pessoas relacionadas a saúde, educação, trabalho e moradias para atender às diversas faixas de renda da população.

“A cidade deverá cada vez mais se descentralizar e, em cada um desses centros teremos bairros planejados que conversam entre si e com o centro principal da cidade. No entanto as atividades todas que compõe a nossa vida devem estar a uma distância compatível como em um bairro planejado”, explica.

O bairro e a cidade

Marcelo Fonseca Ignatios, arquiteto e urbanista, destacou a união entre os gestores públicos e privados, de forma que o bairro planejado esteja totalmente inserido na cidade. “Sempre teremos como necessidade nos centros urbanos, a criação de empregos, a preservação dos patrimônios e recursos naturais e valorização das áreas centrais da cidade. Para isso precisamos de recursos financeiros, um capital humano capacitado e uma legislação que consiga oferecer respostas práticas para os problemas”, comentou.

O arquiteto destaca que, todas essas necessidades, acabaram também criando ocupações desordenadas, que não sustentam o conceito que temos de bairro, devido à falta de infraestrutura e também da questão de pertencer a um local. “Associar bairros planejados com uma pauta maior, mais política que é o planejamento urbano num evento como este aqui, cheio de pessoas que são da iniciativa privada, agentes públicos, secretários, técnicos, é muito importante porque a gente ganha a possibilidade de que o agente público se aproxime do desenvolvedor privado, e igualmente o desenvolvedor privado passa a entender também o papel de gestão pública, a necessidade de ter qualificado melhor estes técnicos das prefeituras”, comentou.

Ignatios destaca que o desenvolvimento das cidades apoiado nos conceitos de bairros planejados e vice-versa, nos traz um senso de realidade, senso de urgência para que estes bairros sejam feitos de modo consequente superando aquela condição de loteamentos na área de expansão urbana e passando a contar com uma infraestrutura adequada para as pessoas. “Os bairros planejados devem ter um desenho de cidade mais voltado para o sucesso dele no futuro com menos problemas, uma vez que ele já sai embarcado com diversas soluções. Para isso é planejamento, maturação. Cada bairro, cada comunidade tem a sua vocação, vai se estruturando e criando vida própria”, explicou.

Para o planejamento de um bairro planejado, segundo Ignatios, é preciso considerar a legislação, os códigos de uso e ocupação, incentivos para atrair e fixar pessoas e empresas, unir tradição e inovação, além de contemplar múltiplas rendas e perfis sociais. “Para que isso tudo seja possível é necessário ter uma visão de longo prazo, um bairro planejado vem para ficar, atravessar gerações, então a visão de longo prazo é absolutamente essencial. Sem essa visão não estamos fazendo desenvolvimento urbano”, disse.

Além disso, em relação aos bairros planejados o arquiteto reforçou a necessidade de se pensar em uma expansão urbana ordenada e consequente; adensamento inteligente, sustentável e orgânico; transporte público coletivo na concepção DOT (Desenvolvimento Orientado ao Transporte) e espaços públicos generosos e dinâmicos. “Processos transparentes são fundamentais para que esse sentido de comunidade, essa percepção de confiança inerente a um bairro planejado exista”.

Cidade para as pessoas

Felipe Cavalcante, presidente de honra da ADIT – Brasil, coordenador do Movimento Somos Cidade e CEO da Matx, abriu sua participação no painel lembrando da necessidade de tornar as cidades mais humanas. “Quero lembrar aqui do papel positivo que o setor privado pode ter no desenvolvimento das cidades e na necessidade de tornarmos as cidades mais humanas, mais voltada para as pessoas. Pegar de volta essa cidade que os automóveis tomaram conta, e trazê-la para os pedestres, a população”, comentou.

Para Cavalcante, os bairros planejados são uma reação do setor privado à incapacidade do setor público em investir na infraestrutura e no urbanismo. “Nós temos um objetivo de divulgar cada vez mais o bom urbanismo no Brasil. Eu acho que a gente tem que educar não só o público, mas o próprio poder público da importância de começar a criar ambientes urbanos de maior qualidade”, comentou. Ele explicou que a demanda gerada pelos bairros planejados precisa ser considerada pelo setor público, sendo conectado e algo positivo para a cidade.

Além disso, ele destacou a importância da Urban Systems no setor e o desenvolvimento da Granja Marileusa, bairro planejado estudado pela empresa em Uberlândia (MG) e desenvolvido pelo grupo Algar. “A Urban Systems tem se destacado há muitos anos como um dos principais players do Brasil em vários papéis, seja na parte de inteligência de mercado e até mesmo na estruturação de bairros planejados que foi o caso da Granja Marileusa em Uberlândia. Então eu acho que é uma empresa de referência hoje no Brasil, uma empresa que realmente está num patamar fantástico e que entende as cidades melhor que qualquer outra”, comentou.

Associações nos bairros planejados

Um bairro planejado bem desenvolvido está diretamente ligado ao fato das pessoas se sentires seguras e protegidas, ao desenvolvimento da cidade e do seu entorno, de forma que beneficie a qualidade de vida da população. Assim Mariângela Machado, Diretora De Associações em Loteamentos e Bairros Planejados da Secovi – SP, destacando a importância das Associações nesse processo.

“Pensando no conceito antigo, se formavam associações de adquirentes com objetivos comuns. Hoje, pensando nos bairros planejados, as associações não têm apenas objetivos comuns, têm objetivos comunitários, do processo das pessoas que estão também fora da área de abrangência do bairro. Fazer a diferença na cidade, não apenas no seu bairro”, explicou.

Mariângela também destacou que os propósitos de uma Associação ultrapassam a representatividade institucional. Hoje é preciso pensar em parcerias público privadas, objetivar melhorias para a cidade e para o planeta e incentivar a socialização não apenas entre os moradores, mas em todo o entorno. “O mote antes era ‘juntos somos mais’, hoje é ‘juntos seremos melhores’. Para isso temos que pensar e objetivar melhorias na cidade, no planeta. Temos que sair dos bairros e nos inserirmos na cidade, não apenas socializando, mas também participar da gestão”, comentou.

Outras atribuições das Associações citadas durante a palestra foram: atuação em conselhos comunitários de meio ambiente, segurança e parceria com ONGs; contribuição em governança por meio de políticas públicas de inclusão e também participação na elaboração da legislação. “Os desafios urbanos e humanos que vivemos são principalmente relacionados a tomar ações sem influências ideológicas, pensar no desenvolvimento das cidades e das pessoas ‘além do nosso quintal’ e adotar propósitos globais e não apenas em causa própria”.

A parceria entre a Urban Systems e Secovi também foi citada por Mariângela. “O Secovi está de braços abertos para a Urban Systems, inclusive já fomos parceiros num estudo sobre fachadas ativas, então o Secovi convidou a Urban Systems para desenvolver um estudo em determinados eixos de São Paulo, em virtude do plano diretor para ver se em determinados eixos existia demanda para construção e implantação de empreendimentos com fachadas ativas. E não poderia ser outra empresa mais conceituada do que a Urban Systems para esse estudo. Esse estudo foi apresentado na convenção Secovi de mais ou menos, 2 a 3 anos atrás, e foi matéria de vários jornais, pela importância, por terem comprovado que nem todos os eixos estruturais da cidade de São Paulo comportavam condomínios com fachadas ativas. Então isto mostra a importância de estudos bem-feitos, de bases sólidas e de expertise”, concluiu.

Nosso blog tem uma seção específica com conteúdos sobre o tema Bairros Planejados. Acesse aqui.

Conteúdo elaborado pela redação Urban Systems

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1 Comment

  • A. Oliveira
    01/10/2021

    Gostaria de levantar um tema para vocês estudarem e elaborar um ranking sobre o trânsito das cidades. Existem muitas cidades com vários bairros planejados mas o trânsito continua matamdo por não ter uma política de evolução na sinalização do perímetro urbano. O resultado deste levantamento deve ser levado ao conhecimento dos prefeitos para que se possa termos num futuro próximo cidades mais humanas no trânsito..

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