Connected Smart Mobility: Tendências de TOD (Transit Oriented Development) no Brasil
Especialistas mostram cases de sucesso, falam das oportunidades e desafios em implantar o desenvolvimento orientado pelo transporte no Brasil
O Connected Smart Cities e Mobility (CSCM) realizado pela Necta e Urban Systems aconteceu nos últimos dias 08, 09 e 10 de setembro trazendo debates importantes em diversos seguimentos com o objetivo de melhorar a vida nas cidades. Durante o evento, realizado em ambiente totalmente digital DX (Digital Xperience), a Urban Systems preparou agendas estratégicas específicas nas áreas de smart cities (saiba mais sobre os painéis de Bairros Planejados, Mercado Imobiliário e Planejamento Urbano) e mobilidade com o objetivo de trazer os debates para a prática com sugestões para que gestores públicos, empresários e academia pensassem o futuro das smart cities.
A Mobilidade sendo concebida como um dos 11 eixos temáticos do Ranking Connected Smart Cities, primeiro estudo de cidades inteligentes do Brasil, realizado pela Urban Systems, ganhou espaço de evento em 2019 para poder abordar diferentes aspectos que a tornam fundamental para as cidades do futuro, desde o transporte de massa até a micro mobilidade, passando por questões de conectividade, mobilidade ativa, compartilhamento, tendências, integração e veículos elétricos.
Este ano, a Urban Systems trouxe para o Connected Smart Mobility discussões inéditas que integram a mobilidade e o planejamento urbano, com a realização de 2 painéis no segundo dia de discussões. O primeiro painel da agenda estratégica de Planejamento Urbano e Mobilidade aborda o TOD (Transit Oriented Development) – Desenvolvimento Orientado pelo Transporte – uma política pública que prioriza o transporte público em detrimento dos veículos individuais, e ainda prioriza o uso misto do solo, utilizando-se de rede de infraestrutura básica da cidade.
André Cruz, Sócio e diretor de Planejamento Urbano da Urban Systems foi palestrante e o moderador do primeiro painel sobre Planejamento Urbano e Mobilidade, trazendo especialistas, urbanistas, membros de entidades globais e acadêmicos para debater as tendências de TOD no Brasil. Além da moderação de André Cruz, o painel contou com a participação do Oriol Biosca, Head of Strategic Planning da Mcrit; de Flávio Chevis, CEO da ADDAX; e de Peter Mirow, CEO e Diretor da DB International Brasil e DB Enginnering & Consulting GmbH do Brasil.
TOD
O CEO da ADDAX, Flávio Chevis, iniciou o painel apresentando alguns conceitos sobre o “Desenvolvimento Orientado ao Transporte” – termo traduzido do inglês Transit Oriented Development, ou “TOD”, que é uma estratégia que integra o planejamento do uso do solo à mobilidade urbana com o objetivo de promover cidades compactas, conectadas e coordenadas. “É importante lembrar que o termo ‘transit’ em inglês, não é referente a ‘trânsito’ como pode parecer. É uma palavra que se refere exclusivamente ao transporte público de passageiros, portanto o TOD está diretamente ligado a priorização desse tipo de transporte, em detrimento do deslocamento particular. Nós integramos a esse conceito outra sigla que é o LUDI – Land Use and Transport Integration, que é a integração do uso do solo ao transporte”, comentou.
Chevis destacou que é necessário planejar o transporte de uma forma integrada ao uso do solo, usos diferenciados, para que a cidade tenha múltiplas centralidades ligadas aos meios de transporte. “Quando criamos um único centro em uma metrópole, que concentra a maioria de serviços e empregos, a cidade se torna desbalanceada e espraiada, tanto na utilização do espaço urbano quanto ao uso do transporte. Na metrópole policêntrica você trabalha o transporte público ligando diversas centralidades, ocupando essas de forma adensada e mista”, disse.
Como exemplos no Brasil, Chevis citou Brasília (DF) que tem um desenvolvimento totalmente contrário ao TOD, priorizando o uso do carro particular, embora tenha um bom trabalho urbanístico e arquitetônico; além de Curitiba (PR), que traz um bom uso do transporte público com corredores de ônibus que ligam diferentes centralidades; Teresina (PI) que teve um Plano Diretor recentemente aprovado com conceitos de adensamento e TOD; e São Paulo, que implantou em 2004 um novo Plano Diretor Estratégico que dialoga com o TOD. “Em regiões próximas a Avenida Rebouças (linha 4 do metrô e corredor de ônibus) e Nove de Julho (corredor de ônibus) é possível observar nitidamente o crescimento de edificações verticalizadas que são fruto da estratégia do Plano Diretor que é a ocupação adensada daquela área próxima ao meio de transporte”, finalizou.
Exemplos no exterior
Oriol Biosca, Head of Strategic Planning da Mcrit, trouxe para o painel as experiências da sua empresa, que fica em Barcelona, na Espanha. “Embora estejamos sediados na Europa temos muitos trabalhos no Brasil há mais de 10 anos. Atualmente estamos trabalhando em Teresina (PI), exatamente para trazer planos de TOD, conforme falado anteriormente pelo Chevis”.
Para Biosca, uma cidade sem carros é uma cidade mais saudável, ele citou como exemplo um plano desenvolvido para a cidade de Rio Negro, na Colômbia. “O projeto encontrou uma situação bastante típica nas metrópoles, que é um excedente de espaço de circulação que limita as ruas e prejudica a segurança. Com o estudo percebemos que poderíamos recuperar 4 mil m² de área pública para outros modais: pedestres, ciclistas, como grandes calçadas”, explicou.
O custo do projeto foi baixo, segundo Biosca, e o resultado foi a melhoria do espaço urbano e da qualidade de vida nas pessoas. “Esse projeto teve uma boa repercussão internacional, porém também recebeu críticas pelas pessoas que estão mais focadas na mobilidade com carros particulares. Esse é um debate recorrente quando apresentamos projetos que visam diversificar os modais”, comentou.
O debate ficou claro quando, entre 2009 e 2010, ocorreu um processo participativo para a mudança da imagem da nova Avenida Diagonal em Barcelona, a partir da implantação de um VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos). “Entre os 172 mil cidadãos consultados, 80% foram contra a ligação. Ou seja, ainda temos muita dificuldade em implantar esses tipos de mudança nas cidades. As pessoas têm certa resistência e ainda estão muito baseadas nos carros”.
Integração
Também participou do painel Peter Mirow, CEO do e Diretor da DB International Brasil e DB Enginnering & Consulting GmbH do Brasil, especializados em transporte de passageiros e cargas, uma das maiores operadoras de sistema de transportes no mundo. O Grupo tem sua origem na Alemanha, porém tem projetos em diversos países do mundo.
“O forte do nosso sistema é o transporte ferroviário, porém hoje nos enxergamos como uma empresa que oferece soluções para o transporte. Acreditamos que o transporte tem que ser sempre entendido de uma forma multimodal. Portanto, considerando que o sistema ferroviário não é muito amigável quando falamos em integração, precisamos considerar vários fatores com muito cuidado quando fazemos a integração desses tipos de sistemas com outros transportes e, principalmente com a malha urbana”, explicou.
Mirow explicou que para que essa integração seja bem sucedida o grupo trabalha tanto a gestão da infraestrutura, trilhos, estações, sistemas de comunicação, além dos transportes de cargas com trens, caminhões, navios e aviões. “As estações ferroviárias multimodais são as principais responsáveis pelo equilíbrio entre o morar, trabalhar e se locomover nas cidades. Nesse sentido vemos as estações como polos muito importantes dentro dos centros urbanos e estamos trabalhando no remodelamento das estações, trazendo o adensamento com áreas de trabalho, residenciais e de lazer, de forma que elas se integrem e tragam mais segurança vida e desenvolvimento econômico tanto para o sistema quanto para a comunidade”.
Oportunidades e desafios
André Cruz, Sócio e diretor de Planejamento Urbano da Urban Systems, concluiu o painel falando sobre os desafios para impulsionar o TOD no Brasil. “A Urban Systems sempre pontua que é preciso ter um processo bem claro para a implementação do TOD, uma vez que não é algo que pode ser feito baseado em uma única fórmula”, comentou.
Segundo Cruz, o processo consiste em algumas fases como: encontrar quais as oportunidades específicas na cidade para o desenvolvimento orientado pelo transporte, definir o contexto da cidade, trazer metas para a implementação nessas áreas, ter um diagnóstico urbano e incorporar essas estratégias ao desenho urbanos, além da gestão e acompanhamento do plano.
Os desafios no Brasil começam na mudança comportamental, já que existe no País uma cultura de consumo de veículos e motocicletas muito consolidada em algumas metrópoles. “Temos grandes desafios no Brasil, um deles é deixar claro para a população que viver em um ambiente mais saudável de transporte, gera qualidade de vida e satisfação. É preciso implementar cada vez mais os usos, para que as pessoas desfrutem cada vez mais”, comentou.
Outro fator importante ressaltado por Cruz é que os estudos devem ser feitos caso a caso considerando as particularidades de cada região ou metrópole brasileira, o que exigem estratégicas específicas.
Confira AQUI a apresentação completa do sócio e diretor de Planejamento Urbano, André Cruz.
A Urban Systems atua em diferentes etapas do desenvolvimento de estudos de planejamento urbano e transporte. Conte conosco para o entendimento das vocações da sua cidade e no dimensionamento de demandas para projetos de mobilidade e Receitas Acessórias.
O painel aconteceu ao vivo e contou com apresentações e debates entre os participantes, clique aqui para acessar o painel.
Conteúdo elaborado pela, Redação Urban Systems.
Pingback: CSC DX 2020: impacto da COVID-19 no planejamento urbano - Urban Systems - Blog
Pingback: Políticas de Land Value Capture como ferramenta para distribuir a riqueza gerada por investimentos públicos - Urban Systems - Blog
Pingback: Desenvolvimento imobiliário próximo a estações de metrô e trem - Urban Systems - Blog
Pingback: Dois anos de Blog! O que mudou e para onde vamos? - Urban Systems - Blog
Pingback: TOD alia planejamento do uso do solo à mobilidade urbana para tornar cidades mais integradas e compactas - Somos Cidade
Pingback: BID e MDR publicam estudo de pré-viabilidade de áreas para aplicação de DOT em Teresina (PI) - Urban Systems - Blog
Pingback: Urban Systems apresenta diagnóstico estratégico para Cascavel (PR) 2050 - Urban Systems - Blog