IBGE divulga primeiros resultados preliminares do Censo 2022 com surpresa

Leandro Begara, diretor de Inteligência de Mercado da Urban Systems, analisa os primeiros resultados divulgados do CENSO IBGE 2022*

Recentemente o IBGE divulgou a prévia da população brasileira calculada com base nos resultados do Censo Demográfico 2022 até 25 de dezembro de 2022. Para surpresa de muitos, os dados divulgados são muito distintos do que se vinha acompanhando nas divulgações de estimativas de população nos anos anteriores. Para se ter uma ideia do tamanho da distância das informações, anteriormente estimava-se algo em torno de 214 a 215 milhões de habitantes no Brasil em 2022, enquanto a prévia do IBGE agora indica 207 milhões de habitantes.

Seria desnecessário falar sobre a importância das informações estatísticas produzidas pelo IBGE – sobretudo as censitárias – e outras instituições do Sistema Estatístico Nacional, muitos já o fizeram. Novamente em 2019-2020, quando da redução orçamentária que tolheu parcela importante do questionário censitário e posteriormente com a postergação da realização do Censo por conta da pandemia da Covid-19, diversos órgãos, pesquisadores e um sem-número de interessados em suas informações bradaram em defesa do IBGE, de seus competentes servidores e do Censo propriamente dito.

Entretanto, a redução de cerca de 7 milhões de habitantes ora verificada nos força a refletir sobre questão tão vital para o futuro da nação. Reforço aqui, uma vez mais, a fundamental relevância do conhecimento e divulgação de um retrato fiel do Brasil e de seu povo, tanto na afirmação, reafirmação e retificação de nosso passado e presente, como na formulação das políticas públicas vindouras para reparação histórica e melhoria social, econômica e cultural de todos os brasileiros.

Primeiras impressões sobre os novos dados

O novo dado divulgado pelo IBGE já permite interpretações bastante profundas do momento demográfico atual do país, ainda que de forma preliminar. Significa, em uma primeira, rápida e simples leitura, que a população brasileira cresceu bastante menos do que se esperava.

Essa variação do crescimento populacional ocorre basicamente pela alteração de quatro variáveis fundamentais: fecundidade, mortalidade, expectativa de vida e fluxo migratório. Convém dizer que as taxas de fecundidade e mortalidade já vem se reduzindo há tempos no Brasil, a primeira corroborando com a redução do crescimento populacional, enquanto a segunda resulta diretamente no aumento da expectativa de vida. Já o fluxo migratório para o território brasileiro apresenta oscilações temporais, porém de menor relevância após meados do século passado, tornando-se emigrante e não mais imigrante (ou seja, com maior fluxo de saída do que de entrada no país).

Assim, pode-se inferir que a redução do crescimento observada está diretamente relacionada à maior redução do número de nascimentos e/ou maior crescimento da expectativa de vida. Ainda que esta segunda evidência seja bastante positiva, representando melhorias na qualidade dos serviços de saúde, condições sanitárias e qualidade de vida em geral, essa somatória corresponde também a uma aceleração do processo de envelhecimento da população, com perspectiva de atingimento de uma estabilidade e posterior decréscimo demográfico mais precocemente do que se imaginava.

Em resumo, população em menor crescimento representa grandes transformações nas estruturas sociais que, por sua vez, alteram de forma impactante as necessidades dessa população, inclusive seus padrões de consumo. Isto quer dizer que estamos caminhando para o final do bônus demográfico (momento de maior participação da população em idade ativa em relação à população total) sem que tenhamos aproveitado esta situação para estabelecer parâmetros de um estado de bem-estar social adequado.

Mercado Imobiliário e Demanda

Todo este movimento demográfico se reflete de diversas formas no mercado imobiliário. Algo que já vem acontecendo nas últimas décadas e para o qual o mercado vem se adaptando e apresentando novas soluções é o fato de nossas famílias estarem cada vez menores, demandando residências mais enxutas e o surgimento de unidades como os apartamentos compactos, analisados neste blog no texto aqui.

Também uma população cada vez mais velha apresenta demandas específicas, proporcionando o surgimento de segmentos de mercado antes negligenciados como os residenciais para terceira idade, os “sênior livings”, tema também já abordado em nosso blog aqui e aqui.

No entanto, dentre os inúmeros desdobramentos possíveis a partir das estatísticas censitárias, encontra-se sua utilização na aferição de demandas para o planejamento de políticas públicas e de investimentos e empreendimentos privados. Calcular e reajustar rotas faz parte do cotidiano dos empresários e empreendedores de todos os segmentos e o mercado imobiliário não é diferente.

Uma população menor demanda menos residências, reduzindo a nova demanda por unidades habitacionais. Ajustar o planejamento de médio e longo prazo de projetos de desenvolvimento imobiliário e urbano ou mesmo de um planejamento estratégico da empresa pode ser um tanto traumático, sobretudo quando a necessidade pressupõe “baixar a régua”, porém se faz necessário e principalmente prudente frente à nova informação disponibilizada pelo IBGE. Dirimir riscos é tão saudável e rentável quanto acertar o produto e o preço!

Especialista em dimensionamento de demanda imobiliária de produtos a serem lançados ou de projetos de médio e longo prazo, a Urban Systems está sempre atenta às novidades e ao mercado para oferecer as melhores soluções para seu negócio de base imobiliária!

Confira as diferentes metodologias e soluções que a Urban Systems utiliza para entender as demandas aqui.

Conte conosco no planejamento de seu projeto para obter excelentes resultados com riscos controlados.

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Conteúdo elaborado por Leandro Begara, Diretor de Inteligência de Mercado da Urban Systems

*Fonte: CENSO IBGE 2022 

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7 Comments

  • Diego Begara
    31/03/2023

    Gostei do texto! Me surpreendeu essa diferença tão grande na população!! Um abraço

    • Viviane Cabral
      04/04/2023

      Trabalhei como recenseadora, e posso dizer com toda certeza, que não é de fato a realidade, A população não cooperou, muitos se escondiam, se recusavam a responder, o recenseador sofreu por todo o Brasil , espero sinceramente que haja uma punição para os que se negaram a nos receber e responder ao questionário do censo. Infelizmente encontramos muita pessoas que não fazem menor ideia da importância de responder corretamente.

      • Leandro Begara
        05/04/2023

        Viviane, obrigado pelo seu comentário!

        De fato e infelizmente, sabemos que este ciclo censitário foi cercado por incertezas, falta de apoio, divulgação e esclarecimentos à população, o que gerou situações como esta relatada por você e tantos outros recenseadores.

        É importante apenas ressaltar que o IBGE conta com corpo técnico muito competente, e lança mão de ferramentas estatísticas para dirimir erros e diminuir distorções de todas as naturezas, como por exemplo as recusas em participar da pesquisa, permitindo que as informações divulgadas (que ainda serão complementadas e revisadas) sejam bastante confiáveis.

        Confira mais sobre a metodologia em: https://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2022/Previa_da_Populacao/Nota_Metodologica_Previa_Populacao_Municipios_CD2022.pdf
        O item 5.2 trata exatamente do ajuste realizado por conta de domicílios ocupados sem entrevista.

  • Anderson
    08/04/2023

    O desgoverno que atuou de 2019 a 2022 fez com que a população tivesse ojeriza à pesquisa. A população brasileira sempre recebeu bem os censitários do IBGE, porém no último ano pela campanha deslavada contra pesquisas teve como resultado negativo à receptividade dos entrevistadores. Um dos fatores preponderantes ao envelhecimento da população é o custo de vida cada vez mais alto no Brasil . Hoje o casal precisa ir trabalhar para ter o sustento da família e não tem com quem deixar a criança. Cada vez mais vejo casais sem filhos e/ou pessoas morando só.

  • Fred
    28/04/2023

    O censo de 2022 não reflete a realidade, não houve uma campanha pra divulgar, cerca de 20 a 30 % dos domicílios recusaram os recenseadores principalmente nas grandes cidades, medo da violência, falta de tempo e uma série de questões .
    Vamos aguardar o censo de 2030

  • André
    27/05/2023

    Pois mesmo para quem recebeu o funcionário absolutamente não foi feita nenhuma pergunta a não ser se tinha alguém com menos de 9 anos… Só fazer a conta. Se eu tivesse um filho com um ano de idade não teria entrado no censo mesmo estando em 2021, 11 anos depois do último censo. Outra coisa não perguntou religião nem bens da minha casa. Esse censo não vai servir para nada nos assuntos estatísticos. Uma lástima para um órgão que era referência. O melhor seria refazer em 2025 com divulgação e dinheiro para o correto trabalho.

    • Karl
      19/09/2023

      As pessoas criticam sem entender a metodologia do Censo… Alguns domicílios respondem o questionário simplificado, que é de fato bem breve. Outros (foi o meu caso) rspondem o questionário longo, que é extremamente detalhado. Assim é feito no mundo inteiro.

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